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Introdução ao Livro de Gênesis - Parte 6/11 (Autoria)

Autoria do Livro

Anderson Vicente Gazzi

25/01/2025

Gênesis_autoria

A autoria do Livro de Gênesis tem sido tradicionalmente atribuída a Moisés, uma posição amplamente aceita pela tradição judaico-cristã e central na teologia ortodoxa. Essa visão, chamada de autoria mosaica, sustenta que Moisés escreveu Gênesis como parte do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) sob inspiração divina, organizando e registrando os eventos primordiais e a história dos patriarcas com a orientação de Deus. Ao longo dos séculos, essa autoria tem sido defendida como fundamental para garantir a unidade e a confiabilidade teológica do texto.


a. A Tradição da Autoria Mosaica


A atribuição de Gênesis a Moisés é sustentada por várias passagens bíblicas que se referem a ele como autor da Lei (por exemplo, Êxodo 17:14; Deuteronômio 31:24-26; João 5:46-47). A autoria mosaica é tida como significativa porque Moisés, como líder escolhido por Deus para guiar o povo de Israel, foi capacitado não apenas para conduzi-los fisicamente, mas também para transmitir fielmente a história e a vontade de Deus.


De acordo com João Calvino, em seu Comentário sobre Gênesis, Moisés era o intermediário ideal para registrar as origens do mundo e da fé israelita, pois estava em uma posição única para compilar e organizar tradições orais e escritas que haviam sido preservadas pelas gerações anteriores.


b. Inspiração e Autoridade Divina


Embora Moisés seja o autor humano, a composição de Gênesis é obra da inspiração divina, ou seja, foi escrita sob a direção do Espírito Santo. Essa doutrina da inspiração, conforme articulada em 2 Timóteo 3:16, assegura que o conteúdo de Gênesis é infalível e autoritativo para a vida e fé dos cristãos. Como defendido por teólogos tradicionais como Herman Bavinck, a inspiração de Gênesis assegura que as palavras e os eventos registrados refletem não apenas a realidade histórica, mas também a intenção divina de revelar o caráter e o propósito de Deus.


c. A Questão Documentária e a Resposta Conservadora


Durante os séculos XVIII e XIX, a autoria mosaica foi questionada por estudiosos que propuseram a teoria documentária, sugerindo que o Pentateuco (incluindo Gênesis) é uma compilação de fontes diferentes (conhecidas como J, E, D e P), atribuídas a vários autores e editadas ao longo do tempo. No entanto, a teologia conservadora, enquanto reconhece a complexidade e as camadas de linguagem no texto, afirma que essas teorias não comprometem a autoridade e a unidade de Gênesis. Para estudiosos reformados, como Bruce Waltke, Gênesis deve ser lido como um texto unitário, que exibe consistência teológica e uma visão redentora clara, indicando a autoria e supervisão de uma mente inspirada, mesmo que tenha havido possíveis edições posteriores sob a providência de Deus.


d. A Função de Moisés como Profeta e Legislador


A função de Moisés como autor de Gênesis vai além de uma simples compilação de fatos históricos. Moisés é visto como profeta e legislador, autorizado a registrar a revelação inicial de Deus para a criação e a formação de Israel como povo escolhido. Segundo a perspectiva reformada, isso confere a Moisés uma autoridade não apenas histórica, mas também teológica. Como profeta, ele interpretou os eventos da criação, da queda e da aliança de Deus com os patriarcas, proporcionando ao povo uma visão coerente da obra de Deus no mundo. Essa perspectiva é essencial para a teologia reformada, que vê a Bíblia como uma narrativa única da salvação, desde a criação até a consumação.


e. Moisés como Compilador e Editor


Alguns teólogos conservadores, como E.J. Young, sugerem que, embora Moisés seja o autor de Gênesis, ele pode ter usado fontes orais ou escritas preservadas pelos patriarcas, organizando-as sob inspiração divina. Dessa forma, Moisés atuou como compilador, reunindo registros e tradições antigas que Deus preservou ao longo dos séculos. Essa visão reforça a ideia de que Deus utilizou o contexto histórico e cultural dos patriarcas, mas dirigiu a composição de Moisés para apresentar o relato de Gênesis com precisão e integridade.


f. Implicações da Autoria Mosaica para a Teologia Conservadora


A autoria mosaica de Gênesis não é apenas uma questão de tradição, mas um componente essencial da doutrina da Escritura. A unidade e a continuidade dos temas de Gênesis com o restante do Pentateuco — e, por extensão, com toda a Bíblia — são garantias de que Deus preservou e comunicou Sua revelação de forma completa e coerente desde o princípio. A autoridade do texto, então, é vista como indiscutível, refletindo o caráter e o propósito eterno de Deus.


g. Conclusão


Assim, a autoria de Gênesis é tradicionalmente atribuída a Moisés, que, inspirado pelo Espírito Santo, registrou e compilou os eventos que revelam o início da criação, o desenvolvimento da humanidade, a introdução do pecado e a promessa redentora de Deus. A teologia conservadora sustenta essa autoria como vital para a interpretação e o entendimento de Gênesis, assegurando que o conteúdo do livro é uma expressão fiel da vontade de Deus, preservada para instrução, correção e edificação da fé cristã.


Bibliografia:


  • Calvino, J. - Comentário de Gênesis.

    (Perspectiva tradicional sobre Moisés como autor de Gênesis.)

  • Dillard, R. B.; Longman III, T. - Introdução ao Antigo Testamento.

    (Discussão sobre as teorias modernas de autoria.)

  • Hill, A. E.; Walton, J. H. - Panorama do Antigo Testamento.

    (Abordagem da autoria mosaica e implicações teológicas.)

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